quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

crônica crítica do efêmero

Eis um texto que considero emblemático do que seria uma crítica cultural e de moda. Digitei o texto para conversar com os alunos, e mostrar um estilo de crítica que praticamente não existe mais: a crônica!

Segue então esse presente, daquele que é um dos grandes cronistas de todos os tempos: Nelson Rodrigues. Não importa se o referido escritor era um reacionário, nostálgico... O que está em questão é o olhar histórico amplo, desprendido desse ou daquele mundinho social, e que conecta coisas várias, e as relaciona de forma imprevista e com uma erudição que desvela toda uma época, com suas imagens, seus valores, suas "necessidades", suas aparentes imposições e seus pré/conceitos.

Não se trata, ao ler a crônica do Nelson, de tomar o partido do bem, da nostalgia do paraíso perdido, isto é, dizer que os tempos mudaram e para pior, que bom mesmo era o passado, e que estamos perdidos (ainda que estejamos). A crítica rodrigueana pode ser útil e atual para mostrar que a efemeridade histórica dos sistemas de valores sugere que nos apeguemos menos aos modismos do presente, e olhemos mais ao longe.

:: fábio azevedo ::

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VELHOS ESPARTILHOS (Nelson Rodrigues)


Cada época se assoa de uma certa maneira. (Não falo da grã-fina atual, que não se assoa, nem usa lenço. Na belle époque, porém, a mulher não tinha esse pudor nasal. Por exemplo: - numa frisa de ópera, uma bela senhora puxava o lenço e, diante da platéia interessada, assoava-se com um som de trombeta. Era sublime.)
Já as gerações seguintes tinham outros escrúpulos e recatos. E uma bonita senhora só usava o lenço em último recurso, e quando a coriza já pingava. Mas não havia o som comprometedor. Em nossos dias, chegamos à solução ideal: - uma grã-fina não usa nem lenço, nem som, nem coriza. Até hoje, que me lembre, não vi nenhuma capa de Manchete com sinusite.
Mas, assim como uma época tem um estilo para se assoar, usa outro para se vestir ou para se despir. Eis a pergunta que me faço: - como se veste, ou como se despe a presente geração? A rigor, todo mundo está mais interessado em se despir. Vivemos a mais despida das épocas.
Na minha infância profunda, o Brasil inteiro cantava uma modinha que, entre outros, tinha o seguinte verso: “Cobre, me cobre, que eu tenho frio”. Ah, eu andava pelos quatro, cinco anos. Não percebia a insinuação erótica, nem desconfiava que havia, ali, uma nudez confessa. “Cobre, me cobre, que eu tenho frio”. Hoje, nenhuma menina ou senhora está interessada em se cobrir.
A nudez feminina perdeu todo o suspense e todo o mistério. Nas minhas Memórias contei um dos mais violentos traumas de minha infância. Foi numa batalha de confete da praça Saenz Peña. Teria seis anos, ou cinco, talvez. Cinco. Em cima do meio-fio, atracado às saias de uma vizinha, eu espiava o corso. E, de repente, fez-se, na praça, um silêncio ensurdecedor.
Sim, foi um silêncio de se ouvir em toda a cidade. Lá adiante vinha o carro aberto; e, dentro dele, uma odalisca. Mas odalisca era o de menos. Seria bonita, feia, ninguém sabe. O patético é que havia uma abertura na fantasia, um decote abdominal. E, por aí, pela modestíssima nesga de carne – irrompia o cavo umbigo. Daí o assombro total.
Eis o que eu queria dizer: - a primeira nudez que eu vi, na minha vida, foi um umbigo. Há entre mim e essa batalha de confete toda a imensa, espectral distância de meio século. Cinquenta anos. Pois, até hoje, o umbigo pretérito ainda atropela meus sonhos.
Hoje, a nudez não custa nenhum esforço. Com dois ou três movimentos, qualquer uma se despe. É, se assim posso dizer, uma nudez fulminante. Na época do espartilho, não. Eu fui, confesso, um menino fascinado pelo espartilho. Já com dez anos, subi, certa vez, no sótão lá de casa. Morávamos, então, em Copacabana, na rua Inhangá, nos fundos do Copacabana Palace. Na casa do lado, havia um menino chamado Edgard, que é, hoje, se não me engano, engenheiro.
Mas deixemos o Edgard. Subi ao sótão e encontrei lá uma mala cheia de roupas antigas, exatamente roupas da belle époque. No meio de velhas plumas, de chapéus espectrais, descobri um espartilho, cor-de-rosa. Muitos anos depois, escrevi minha peça Vestido de Noiva. E a heroína também sobe ao sótão, também abre uma mala da belle époque e também descobre um espartilho. (Mas estou misturando as coisas.)
O espartilho explica todo um comportamento feminino. Do mesmo modo, o fraque influía nas maneiras, idéias e sentimentos masculinos. O homem de fraque estava sempre ereto, de fronte alta, como se estivesse ouvindo o Hino Nacional. Não sei se me entendem, mas acho que o espartilho criava entre a mulher e sua nudez, entre a mulher e o pecado, uma distância física e psíquica. Despir-se era um esforço, uma paciência, quase um martírio. E uma bonita senhora deixava de ser uma Ana Karenina – por preguiça.
E outra coisa: - assim como influía nas maneiras e sentimentos da mulher, o espartilho fazia o seu tipo físico. Pode parecer exagero. Nemtanto, nem tanto. Como se sabe, cada época tem seus quadris típicos. Antes da primeira batalha do Marne, e até à primeira batalha do Marne, a brasileira tinha outros flancos. Uma menina de catorze anos precisava pôr-se de perfil para atravessar as portas.
O sujeito olhava a mulher e via, nos seus quadris fortes, uma generosa promessa de fecundidade. Nada mais normal do que uma mulher ter oito filhos. Lembro-me de mães de vinte, 22 filhos. Hoje, a partir dos dez, a mãe recebe um prêmio do Chacrinha, medalha, o diabo. Mas era a brasileira. O casal que parava no primeiro filho arrancava os cabelos de vergonha e frustração
Em nossos dias, cabe a pergunta alarmada: - onde estão os quadris? Não se pode nem falar em “cadeiras”, porque não há mais cadeiras. E, súbito, esbarramos numa realidade surpreendente: - o tipo manequim. Ele se multiplica por toda a parte. Está na PUC, na praia, nos colégios, nas calçadas. A beleza sem quadris, sem peso, sem busto e, numa palavra, o manequim.
Outro dia, um amigo meu, desesperado, bramava: - “A brasileira nunca foi manequim!”. Bufei: - “Nunca”. Mas tanto eu como o meu amigo somos vencidos, convencidos e humilhados pela evidência. Realmente, a brasileira nunca foi manequim. De Debret para cá e antes e depois de Debret, a brasileira nunca foi manequim. Até há pouquíssimo tempo, não era manequim.
Não era. Um dia, porém, o brasileiro acorda e constata o seguinte: - está namorando um manequim; vai se casar com um manequim; e, se trair, há de ser com outro manequim. Nas velhas gerações, a brasileira não se parecia com uma alemã, ou uma inglesa, ou uma americana. E, de repente, parece gêmea dos modelos profissionais que posam nas revistas de Londre, Nova York, Paris.
Outro amigo me pergunta se eu não noto menos feminilidade por aí. E, então, eu me lembro de um Rio em que as mulheres tinham um certo halo de histeria. Há anos e anos e eu quase dizia: - há várias gerações que não vejo ninguém desmaiar. Alguém poderá explicar a redução de feminilidade e os pobres quadris de manequim.
Não deixa de ser alarmante para o brasileiro. Tem que namorar, amar, trair ou esquecer a antibrasileira. Sob a pressão de novos usos, novas maneiras, novas idéias, novos sentimentos, a brasileira muda também fisicamente e vira a antibrasileira. Contei o caso de um amigo, de 45 anos, que amou uma menina de vinte. Ah, nós sabemos o que é uma dessas paixões tardias que levam tudo de roldão, tudo. O meu amigo estava disposto a largar família, fugir, o diabo. Até que, um dia, vai ver a garota e ela o recebe com uma saraivada de palavrões jamais sonhados. Mais tarde, contando-me o episódio, ele esbravejava: - “Um manequim, um manequim!”.
Para ele, a explicação de tudo estava nos quadris estreitos. Não tinha quadris, donde tinha que ser uma impotente do sentimento. Uma antibrasileira.


[12/2/1968]

indagações

Qual a importância do vestuário na formação da identidade das pesoas? É possível ao indivíduo, num esforço de autonomia que busca a emancipação, contruir um estilo próprio, trasformando-se de escravo da moda em escravo de si mesmo?
"Airton Embacher, Moda e Identidade: A contrução de um estilo proprio."

Porque será que deixamos nos levar pela pura vaidade do desejo consulmista? O que nos leva a comprar compulsivamente? seria a mídia? Que hoje usa um comunicação impositora, que nos faz sentir culpa por não adquirir esse ou aquele produto que esta sendo lançado 'ou' reinventado no meracdo!

Edvania - Turma: B Turno: Tarde/Terça Feira

A MODA É NESCESSÁRIA?

Às vezes fico me perguntando, será mesmo a moda necessária?. Será que estar fora de moda nos diminui como seres humanos ou nos faz perder espaço na sociedade?. Sempre que ando pelo centro da cidade ou nos shoppings, fico vendo o quanto às pessoas tentam se parecer com aqueles que estão na mídia, o quanto elas saem de si e buscam se tornar o outro vestindo o que eles vestem, calçando o que eles calçam e às vezes nem percebem o quanto ridículo é estar usando um look que nada tem a ver com seu corpo ou com sua situação social. Esta perda incessante do eu pelo outro no puro desejo de busca de se fazer presente ou vista por todos faz com que, a identidade de cada um não mais tenha seu valor. Desta forma, travestindo-se então de manequim, o homem busca a cada temporada, a cada inventividade lançada no mercado da moda, vestir-se e ser visto seja lá de que jeito for. Com isto, a fidelidade ou forma de assumir sua situação social ou ainda a harmonia e humildade que cada ser humano deve ser possuidor, são jogados no lixo.


Chico Gomes
Fotógrafo
Turma B - Tarde

terça-feira, 4 de novembro de 2008

AS GALOCHAS

O despertador tocou. Seis horas,tenho que levantar. O café já estava à mesa, ainda com sono me sento, fico olhando pela janela uma senhora que passa com seu cachorro na rua. Ela devia ter uns cinqüenta anos, mas vestia-se como se à sua juventude estivesse voltado, calcava galochas cor de rosa, que eu nunca ousaria usar, chama muita atenção. Será que a intenção dela era essa? Não sei, mas chamou a minha.
Me arrumei, fui para o trabalho. O dia era calmo, não havia muito o que fazer, fiquei ao computador digitando relatorios. O tempo passava depressa, eram quatro horas da tarde. Lembrei-me da senhora com galochas, entrei no site do google e fui pesquisar de onde surgiu aquela novidade. Descobri que aquelas galochas eram moda na europa, e agora estavam sendo vendidas no Brasil. Que legal, uma senhora tão antenada nas tendências da moda, e eu nem sabia que essa moda existia.
Acho que vou comprar um par pra mim. O expediente acabou. Enfim, vou pra casa. Quando chegei à porta de casa, olhei para a rua, e lá vinha a senhora novamente.
- Boa noite, senhora?
- Boa noite, tudo bem?
- Sim, que galochas legais!
- Você acha mesmo?
- Sim, achei.
- Pois eu não gostei, são muito chamativas para uma pessoa como eu, só às estou usando porque vim passar o dia na casa da minha neta, minha sandalia quebrou, e a unica coisa que me serviu foram essas galochas estranhas.
- Foi, mas a senhora ficou bem com elas.
- Já vou, até logo.
- Thau!
Que engraçado, eu fiquei pensando que ela estava na moda, e ela só não queira ficar descalça. Amanhã vou ao shopping. Vou comprar galochas coloridas.

VERONICA RODRIGUES
TURMA-A TARDE

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Acossados

Lendo a minha revista mag número 10 eu vi uma materia super interessante sobre os Acossados. Primeiro é relevante falar que sou fã da revista mag, acho ela super bem feita, voltada mesmo para as pessoas que pensam moda...Voltando ao assundo Acossados ( termo em portugues) vêm do termo Squat que originalmente significa Acocorar-se, mas há quase quatro decadas o Squatting significa habitar uma propriedade em desuso com o proposito de acomodação ou como centro de atividades sociais. Hoje milhares de jovens sem recurso transformam imóvies abandonados em moradias, fazendo do squat um estilo de vida. Eles decoram os locais com mobilias recicladas, defendem causas ambientais, criam regras de convivencia social...uma nem tão nova tribo urbana. Hoje a estimativa é que existam cerva de 15 mil squatters em Londres. Como sempre Londres é o berço das novas tribos moderninhas né...Será que essa nova tribo vai se difundir nas demais metropoles???
bjs, Maria Dilia
http://comendocereja.blogspot.com/

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

O invisível na moda...

A moda é um universo amplo, complexo...Poucas pessoas procuram entener o que está por trás daquela roupa que está na passarela. Esse é o invisível da moda!
Atrás das cortinas existe um outro mundo, todo um trabhlo de pesquisas de gostos e tendências, novas tecnologias etc. Há todo um sentimento que aquela roupa procura passar, uma cultura ou ideologia que ela representa. A roupa fala por nós!É a parte dos nossos sentimentos e pensamentos que deixamos visível para que haja uma interpretação (ou não?) do comportamento, do grupo ao qual pertencemos (ou ao qual desejamos pertencer), a classe social e o nível de cultura.
Cultura é a palavra chave. No texto do Nelson Rodrigues - "Velhos Espartilhos", ele mostra perfeitamente essa relação entre a moda e a cultura que ela representa.
O invisível da moda é, principalmente, a cultura, a caracterização dos pensamentos e sentimentos...a moda é efêmera, mas quando agregada à nossa cultura não deixa de existir um pouco dela em nosso estilo...(e isso levaremos para sempre).

Danny Guerra e Danielle Ponte
Turma A - Tarde

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Cultura - Moda - Cotidiano - Cidade

Relembrando as aulas ,vimos que o modo como nos comportamos,pensamos,vestimos...depende muito do meio a que estamos conectados.
O povo brasileiro tem suas particularidades, mas quando nos inserimos na vida e cultura de cada estado brasileiro começamos a diferenciar essas particularidades.
É ai que notamos que a educação,o clima...difere muito as pessoas de estado para estado,tanto na sua forma de falar, de demonstrar sentimentos ,de vestir...
Cada povo tem enraizado a sua cultura,tem hábitos que são difíceis de mudar,de se transformar,por isso,quando pensamos em fazer moda,temos que estar atentos para quem estamos fazendo e o cotidiano dessas pessoas,fazendo todo um histórico,uma pesquisa a quem queremos atingir,para assim acertarmos sempre.
Porque moda por moda, todo mundo faz,mas uma moda fundamentada,estudada,direcionada é mais difícil de encontrarmos,e esta ao meu ver tem mais chances de acertos.

Marcilane Honorato.
Turma C – Noite.